Cadastro atualizado de medula orienta doação
Índice de compatibilidades obtidas pelo registro nacional de doadores aumentou mais de 300% em 11 anos
Foto: Google imagens.
Quando o paciente não possui nenhum parente capaz de doar, o próximo passo é partir para a procura de doadores voluntários. O Redome permite que qualquer pessoa se coloque a disposição para o processo de doação. A partir de 1998, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) passou a ser responsável pelo registro. O voluntário deve preencher um formulário que reúne o maior número possível de informações a fim de facilitar a procura. Atualmente, o sistema conta com 3,5 milhões de doadores cadastrados. Por ano, recebe, em média, de 400 a 470 novos registros. De acordo com o Inca, trata-se do terceiro maior registro de doadores do mundo.
O coordenador do Redome e diretor do Centro de Transplantes do Inca, Luiz Fernando Bouzas, explica que, quando o voluntário realiza a inscrição, uma amostra sanguínea é recolhida para que o doador também seja submetido ao exame de HLA, teste de histocompatibilidade que identifica as características de cada indivíduo. A busca é iniciada automaticamente. “É imprescindível que o doador cadastre o maior número de informações possíveis, de modo a facilitar o processo quando for preciso encontrá-lo. Além disso, ele precisa mantê-lo atualizado. Quando muda de endereço ou de telefone, por exemplo, deve informar o Redome”, esclarece. A responsabilidade da mudança no cadastro é dele próprio e essa atualização pode ser realizada através do site do Inca (www.inca.gov.br).
De acordo com Bouzas, por vezes, os doadores se confundem e pensam que a amostra de sangue já consta como doação da medula em si. “Quem aceita ser doador precisa estar ciente que pode se inscrever hoje e ser chamado daqui a cinco, dez anos.” Essa incerteza pode causar transtornos. Em dez anos, a vida do doador pode mudar radicalmente. “A pessoa pode engravidar, contrair uma doença, estar inapto a abandonar o trabalho por uns dias. Os fatores de impedimento da doação são inúmeros e ninguém pode ser obrigado a fazer o gesto”, explica Bouzas.
O processo de inscrição de pacientes é simples e informatizado. O médico que for responsável pelas informações as inscreve no sistema do Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme), incluindo o resultado do exame de HLA. Identificados os possíveis doadores, a informação é retransmitida ao médico, que analisa, junto com o Redome, quais as melhores opções de doadores para cada caso específico.
Aumento no número de voluntários faz crescer chances de encontrar doador no sistema
A morte de uma menina de nove anos, em Natal (RN), no início deste mês, acendeu um alerta. Sara Dantas morreu devido a uma pneumonia originada por complicações da leucemia. O caso chegou a ser divulgado como resultado de uma falha no processo de procura de doadores.Sara esperava por um transplante de medula e, de acordo com Bouzas, não o recebeu por não ter as condições de saúde necessárias para aguentar a operação. “Tínhamos identificado três doadores preliminares para o caso dela. Uma estava grávida, outro não era compatível. O terceiro estava esperando que ela melhorasse para realizar a doação”, alega.
O sistema de procura de doadores e realização do transplante é totalmente financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quando a busca nacional falha, o Redome realiza um rastreio internacional, a fim de encontrar um doador o mais rápido possível. “As buscas preliminares podem resultar em vários doadores. Quando analisado com afinco, esse número pode ser reduzido ou até eliminado”, explica Bouzas.
O Inca estima que, em média, de 800 a 1.200 novos casos sejam registrados por ano. Bouzas elucida que esse dado é bastante dinâmico. “Quando o paciente é diagnosticado com leucemia, por exemplo, já entra para o sistema como possível receptor. Ele pode melhorar de outra forma ou vir a falecer, e acaba não recebendo o transplante.” De acordo com o diretor, aproximadamente 85% dos pacientes encontram um doador preliminar. Após o exame de compatibilidade, o número cai para 65%. “O número de voluntários cresceu bastante. Em 2003, os resultados contemplavam somente 15% dos pacientes.”
O Rio Grande do Sul está entre os cinco estados que mais possuem voluntários para a ação, ao lado de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. Vítimas de enfermidades hematológicas, onco-hematológicas, imunodeficiências, doenças genéticas hereditárias, tumores sólidos e doenças auto-imunes estão entre as que recebem indicações para transplante. Em alguns casos, somente a quimioterapia ou radioterapia, por exemplo, não são suficientes. O transplante passa a ser a melhor chance de cura para o paciente.
Notícia da edição impressa do JORNAL DO COMÉRCIO de 21/10/2014