segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Um novo capítulo

Menina que recebeu doação de medula da irmã tem alta do hospital

Menina de Gravataí, seis anos, recebeu um transplante da mana Antônia, um ano, que foi gerada para salvar sua vida

04/10/2014 | 04h03
Menina que recebeu doação de medula da irmã tem alta do hospital Ricardo Duarte/Agencia RBS
Ana Luiza teve alta do Hospital de Clínicas na manhã de sexta-feira Foto: Ricardo Duarte / Agencia RBS
Os planos da família de Gravataí que gerou um bebê para salvar a filha com problema de medula óssea deram importantes passos rumo ao final feliz. Após 35 dias do transplante que foi um sucesso, ontem, Ana Luiza, seis anos, teve alta do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
A menina fez questão de escolher o modelito da saída: vestido preto com generosas bolas brancas, casaco bege e, na cabeça, lenço de estampa petit-pois. Três quilos mais magra do que na internação, careca, com a pele escurecida devido às sessões de quimioterapia que prepararam o organismo para o transplante, Ana chegou em casa às 11h com o bom-humor de sempre. Na cozinha, uma festa surpresa a esperava para comemorar o aniversário uma semana atrasado.
Ana Luiza com os pais e a irmã, Antônia, e o irmão, Alex Júnior
Foto: Ricardo Duarte


Alex Junior, 22 anos, o irmão mais velho, era a única visita autorizada no hospital, além dos pais Gerciani Cunha da Costa, 39 anos, e Alex Gularte da Costa, 45 anos. Avó, tia, e primas que ficaram dois meses impedidas de vê-la devido ao rigor da unidade de tratamento caíram no choro quando a enxergaram. Os minutos de silêncio tomados pela emoção foram quebrados pelos gritinhos de Antônia, a criança de um ano que deu nova vida à família ao doar 260ml de medula para a irmã.
A nova aparência de Ana, que tentava beijá-la e apertá-la como de costume, gerou estranheza em Antônia de início. O bebê também zangava-se com quem quisesse tirar-lhe do colo materno do qual ficou distante os 62 dias que Gerciani cuidou de Ana no hospital. O almoço de boas-vindas foi planejado por Ana e executado pela a avó: panquecas de carne. Apesar de aparentar boa saúde e estar com 100% da medula regenerada — a doença que acometeu a menina se chama aplasia medular, quando a medula óssea que produz todos os componentes imunológicos do sangue deixa de funcionar —, serão três meses de cuidados extremos.
Saúde da menina agora é comparada a de um bebê
A "pega", jargão médico para definir a hora em que a medula nova passa a produzir células normais, ocorreu 20 dias após o transplante, conforme o esperado. Os primeiros a dar sinais foram os neutrófilos — ultrapassando o valor de 1,5 mil na contagem. Nos últimos três anos, ela viveu com menos de cem deles. Nas próximas semanas, os glóbulos vermelhos e por último as plaquetas devem se manifestar.
— E eu já vou poder me gripar? — quis saber a menina, arrancando risos dos médicos antes da alta.
A saúde dela agora é comparada a de um bebê, e as células de defesa do organismo ainda estão sendo treinadas para o ataque de qualquer invasor. Um resfriado, portanto, não seria bem-vindo. Os sinais mais claros de que nasceu de novo estão nas vacinas, que devem ser todas refeitas em um ano. Depois, poderá frequentar a escola.
— A medula, que antes era vazia, está repleta de células em crescimento. A recuperação dela foi impressionante — disse Liane Daudt, chefe do Serviço de Hematologia Clínica e Transplante de Medula Óssea do Clínicas.
As consultas semanais seguirão indispensáveis, mas a família já começa a enxergar com maior nitidez a concretização de pequenos sonhos. Em seis meses, Ana estará pronta para brincar no parque de diversões. Serão os primeiros passos marcantes para uma vida nova.
Uma longa espera
– Há três anos, Ana Luiza descobriu que tinha aplasia medular — quando a medula óssea que produz os componentes imunológicos do sangue deixa de funcionar.
– O transplante de medula óssea era a única chance de salvação, mas não foi localizado doador compatível.
– Os pais decidiram gerar um bebê, por meio de seleção embrionária, para que fosse compatível.
– Antônia nasceu em junho de 2013. A esperança era de que as células-tronco do cordão umbilical fossem suficientes para fazer o transplante. Mas ela nasceu prematura e não foi possível coletar células suficientes.
– A equipe médica teve de esperar até que Antônia completasse um ano para poder fazer a coleta.
– Em 29 de agosto, Ana recebeu a medula da irmã. A " pega", jargão médico para designar quando a medula nova do receptor começa a produzir células normais, pode ocorrer entre o 15º e o 21º dia após o transplante.



Fonte: Zero Hora. 

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