terça-feira, 23 de abril de 2013

Bebê gerada após seleção genética doa medula à irmã

Maria Clara, gerada após seleção genética doa medula à irmã Maria Vitória, 6

Maria Vitória, 6, nasceu com talassemia major, uma doença hereditária que prejudica a produção de glóbulos vermelhos. A cada três semanas, tinha que receber "sanguinho", termo usado por seus pais para se referir às transfusões frequentes.
Há um ano e dois meses, ela ganhou a irmã que tanto pediu aos pais e que poderia ajudá-la a se ver livre da doença por meio de uma doação de células-tronco.
Maria Clara, a irmã mais nova, foi gerada a partir de um embrião selecionado em um tratamento de fertilização in vitro feito pelos pais.
A seleção buscou embriões sem a talassemia major e compatíveis para um transplante de células-tronco. O procedimento trazia uma chance de até 90% de cura para Maria Vitória.
Por isso, quando a mais nova nasceu, as células-tronco de seu cordão umbilical foram colhidas e congeladas.
Bebê gerada após seleção genética doa medula à irmã
Maria Clara, gerada após seleção genética doa medula à irmã Maria Vitória, 6, que nasceu com uma doença hereditária
Mas, como o número de células-tronco do cordão não era suficiente para o transplante, considerando o peso da mais velha, foi preciso esperar até que a caçula crescesse um pouco mais para que também fossem retiradas as células-tronco de sua medula óssea por uma punção no osso ilíaco, na bacia.
Há 22 dias, o transplante finalmente foi feito. E, nesta semana, apresentou resultados: a medula óssea de Maria Vitória teve "pega", ou seja, passou a produzir suas células de maneira saudável.
Antes de receber o transplante, ela foi submetida a uma forte quimioterapia para "destruir" sua medula óssea doente. As células doadas pela irmã repovoaram sua medula para que ela funcionasse de maneira normal.
A químio causou reações indesejadas, como náuseas e queda de cabelo, mas seu efeito mais grave (e discutido com os pais) é a infertilidade.
Segundo o médico responsável pelo transplante de Maria Vitória, Vanderson Rocha, do Sírio-Libanês, a chance de a menina ter filhos no futuro é pequena porque 95% dos pacientes submetidos a esse procedimento ficam inférteis.
Esse foi o primeiro caso na América Latina de seleção de embriões livres de doenças genéticas e compatíveis para um transplante.
O geneticista Ciro Martinhago foi o responsável pela seleção dos embriões. Segundo ele, o caso abre brecha para que outras doenças também possam ser tratadas dessa maneira, como a leucemia. Depois do nascimento de Maria Clara, Martinhago já usou o método em outros 20 casos, a maioria para talassemia major e anemia falciforme.
Para o médico, o importante é ter a certeza de que a família quer mais um filho, independentemente da ajuda que ele possa oferecer a um irmão doente.
"Não pode haver o desejo de ter o filho para curar o irmão. A criança não pode se sentir usada dessa maneira. Os pais que atendo me dizem que, se não for possível fazer a seleção, vão querer ter o filho de qualquer jeito."

CURA POSSÍVEL
O médico Vanderson Rocha afirma que Maria Vitória será acompanhada de perto por um bom tempo e só será possível falar em cura definitiva daqui a um ano.
Os pais das meninas, porém, já comemoram.
"Sempre pensei que, se houvesse uma chance de cura para a Maria Vitória, eu não ficaria de braços cruzados. Não consigo descrever a sensação de meta cumprida", diz a biomédica Jênyce Reginato da Cunha, 36, mãe das meninas.
A rotina de transfusões começou quando a filha tinha cinco meses. A mãe conta que a menina sempre considerou o procedimento "normal", mas, há um ano, começou a reclamar e a não querer mais se submeter às picadas.
Antes do transplante, ela já vinha apresentando excesso de ferro no fígado, uma consequência das transfusões que pode causar cirrose e insuficiência cardíaca.
Hoje, Maria Vitória terá alta do Hospital Sírio-Libanês, onde fez o transplante e morou durante um mês.
Cansada da rotina do hospital e com saudade da casa da família, em Cerquilho (SP), deixará para trás um quarto todo decorado com adesivos e pôsteres da novela "Carrossel" --especialmente da personagem Maria Joaquina, interpretada pela atriz Larissa Manoela, que ela sonha em conhecer.


Fonte: Folha de São Paulo por Mariana Versolato

quarta-feira, 3 de abril de 2013


Câncer

Número de pessoas que sobrevivem ao câncer deve aumentar 31% até 2022, diz estudo americano

Previsão está em relatório da Sociedade Americana de Pesquisa sobre o Câncer

Célula cancerígena
Célula cancerígena: a taxa de sobrevivênca não é uniforme para todos os tipos de câncer. O câncer de pulmão, segundo tipo mais comum da doença, representa apenas 3% dos sobreviventes (Thinkstock)
A Sociedade Americana de Pesquisa sobre o Câncer (The American Association for Cancer Research, AACR) divulgou nesta quarta-feira o segundo Relatório Anual de Sobrevivência ao Câncer nos Estados Unidos. O documento, publicado no periódico científico da AACR, Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, prevê um aumento de 31% na sobrevivência ao câncer nos Estados Unidos até 2022: de 13,7 milhões de sobreviventes em janeiro de 2012 para 18 milhões dez anos mais tarde.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Cancer Survivors in the United States: Prevalence across the Survivorship Trajectory and Implications for Care 

Onde foi divulgada: periódico Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention

Quem fez: Janet S. de Moor, Angela B. Mariotto, Carla Parry, Catherine M. Alfano, Lynne Padgett, Erin E. Kent, Laura Forsythe, Steve Scoppa, Mark Hachey e Julia H. Rowland

Instituição: Instituto Nacional do Câncer (National Cancer Institute), nos Estados Unidos

Resultado: O estudo prevê um aumento de 31% na sobrevivência ao câncer nos Estados Unidos até 2022: de 13,7 milhões de sobreviventes em janeiro de 2012 para 18 milhões dez anos mais tarde
O relatório utiliza dados governamentais do programa Surveillance, Epidemiology and End Results, que recolhe informações sobre câncer na população dos Estados Unidos, e de projeções para o censo populacional do país.
Além do aumento estimado no número de sobreviventes ao câncer, o documento mostra que a sobrevivência não é uniforme para todos os tipos de câncer. Atualmente, mulheres com câncer de mama representam 22% dos sobreviventes, enquanto homens com câncer de próstata correspondem a 20%. Pacientes com câncer de pulmão, o segundo tipo mais comum da doença, representam apenas 3% dos sobreviventes.
"Pacientes com câncer de próstata apresentam quase 100% de taxa de sobrevivência em cinco anos. O câncer de mama teve um aumento expressivo, de 75% em 1975 para quase 89% em 2012. Mas nós precisamos de ferramentas de diagnóstico e tratamentos melhores para o câncer de pulmão", afirma Julia Rowland, diretora do Departamento de Sobrevivência ao Câncer do Instituto Nacional do Câncer, parte do Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.
Desafios – De acordo com Julia, o aumento do número de pessoas que sobrevivem ao câncer representará um novo desafio para a saúde pública. Pacientes diagnosticados com câncer terão chances maiores de apresentar outras doenças concomitantes que precisarão ser tratadas. Ela também estima que 16% dos pacientes já terão desenvolvido um tumor anteriormente. "Garantir que esses pacientes tenham vidas longas, saudáveis e produtivas será um desafio para todos nós", afirma.

Fonte: Revista Veja. 27/03/2013