terça-feira, 28 de abril de 2009

Uma ferramenta para a solidariedade

* Artigo publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat, em 28/04/2009.


Ao sancionar no dia 22 de abril a Lei 11.930/2009, batizada de Lei Pietro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu mais uma porta para a solidariedade do povo brasileiro. O texto, de minha autoria, além de homenagear meu filho Pietro, falecido no dia 3 de fevereiro vítima de leucemia mielóide aguda, institui a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea.
Anualmente, de 14 a 21 de dezembro, serão desenvolvidas atividades de esclarecimento e incentivo para aumentar ainda mais o número de cadastros no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), unindo nesta batalha poder público e iniciativa privada.
Com esta lei temos nas mãos uma ferramenta legal para ajudar àqueles que precisam de nós. No Brasil são registrados todos os anos 10 mil novos casos de leucemia, doença que leva à morte e, na maioria dos casos, somente pode ser enfrentada por meio de transplante de medula.
Os números divulgados este ano pelo Ministério da Saúde sobre transplantes de órgãos no Brasil em 2008 são positivos, mas também servem de alerta. O crescimento de 10% nas cirurgias de transplante no País é um dado animador, mas quando se refere à medula óssea infelizmente verificamos que o aumento foi de apenas 1%.
A Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) aponta que o tempo de busca por um doador de medula óssea no Brasil caiu de um ano para seis meses, avanço decorrente da intensificação das campanhas. Hoje, há 940 mil cadastros de doadores e de 65% a 70% dos pacientes brasileiros que necessitam de transplante de medula óssea podem ser atendidos pelo banco nacional.
Precisamos nos esforçar para que estes números fiquem ainda melhores e para isso necessitamos de muito mais voluntários. Aplaudo as estatísticas, mas insisto que ainda podemos fazer mais. O amor ao próximo e a solidariedade só se faz com atitudes concretas.
Não podemos ficar de braços cruzados esperando que alguém próximo a nós necessite de transplante para tomarmos uma atitude. É preciso agir agora e nos tornarmos candidatos a doadores. Basta dirigir-se ao hemocentro mais próximo. É simples. Com a coleta de apenas 10 ml de sangue e o preenchimento de um cadastro imediatamente passa-se a fazer parte do cadastro nacional como candidato a doador de medula óssea.
Para quem está na fila à espera de um doador de medula óssea o tempo, ou a falta de tempo, é o inimigo número 1. Por isso insisto na necessidade de o cadastro de doadores se tornar muito maior do que é hoje para que aumente a probabilidade de se localizar doadores compatíveis e, assim, se evite mais mortes como a de meu filho Pietro.
Infelizmente, Pietro, de apenas 19 anos, passou a fazer parte da estatística de brasileiros que não conseguiram vencer a leucemia. Ele era um garoto como tantos outros deste País. Escrevia livros, estudava muito, gostava de futebol, mas acabou se deparando com a doença quando prestava concurso vestibular e teve um desmaio. Investigadas as causas descobriu-se que sofria de leucemia mielóide aguda.
Lutamos durante 14 meses, mas não conseguimos achar um doador 100% compatível no Brasil e nem no Exterior. O tempo foi nosso algoz. Conseguimos fazer o primeiro transplante um ano depois de diagnosticada a doença. Uma segunda cirurgia foi realizada em janeiro deste ano, quando meu filho já estava debilitado pela doença e acabou falecendo.
Cada estado tem que ter a sua própria proporção de doadores para cobertura das suas necessidades, já que em cada região a origem de sua gente e a suas raízes genéticas diferem. Isto tem que ser levado em conta, na medida em que é improvável, embora não seja impossível, encontrar-se compatibilidade onde há muitas diferenças neste campo.
Achar um doador compatível no começo do tratamento é um sopro de vida e esperança para se enfrentar doença tão arrasadora. A demora é fatal! Lembre-se sempre que a leucemia só tem uma solução: a solidariedade. Não podemos continuar sem ação. Precisamos agir rápido. Sejamos mais solidários, este é o caminho da verdadeira e plena felicidade.

BETO ALBUQUERQUE é deputado federal (PSB-RS), vice-líder do governo Lula e autor da lei que cria a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea.

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