sexta-feira, 14 de junho de 2013

MENOS DOR CONTRA O CÂNCER

Avanço da oncologia oferece procedimentos pouco agressivos e com resultados eficazes


Equipe japonesa, acompanhada pelo oncologista Rolim Teixeira (E), trouxe a Porto Alegre equipamento que permite cirurgia precisa e minimamente invasiva Foto: Félix Zucco / Agencia RBS

Cirurgia inédita no RS mostra o avanço da oncologia, que oferece procedimentos pouco agressivos e com resultados eficazes

– Estou muito tranquila. Fiquem vocês também – recomendava a paciente à equipe médica antes de ser encaminhada ao bloco cirúrgico. Se Berenice Schimada, 61 anos, encarou com serenidade o procedimento de remoção de um tumor no reto, é porque, entre as possibilidades de tratamento do câncer contra o qual luta há dois anos, lhe foi permitida a oportunidade de não sofrer – pelo menos não além do tormento inerente à doença.

Em vez de fazer uma cirurgia que extirparia o órgão e lhe deixaria uma bolsa coletora como consequência, a aposentada aceitou passar por um procedimento inédito no Brasil. A técnica foi aplicada por uma equipe japonesa na última quarta-feira, junto à Fundação Riograndense Universitária de Gastroenterologia (Fugast), na Capital.

Composto por uma câmera de vídeo e um bisturi de manipulação segura, o equipamento desenvolvido pelo especialista japonês Kiyoaki Homma, trazido para o Brasil pelo colega oncologista Rolim Teixeira, permite uma cirurgia precisa e, sem a necessidade da abertura do aparelho digestivo, minimamente invasiva. Na mesma noite, Berenice trocava a maca pelo aconchego da própria cama. E, na tarde de ontem, seu choro não tinha motivo a não ser pela emoção:

– Jamais imaginei que pudesse me tratar sem ser mutilada.

Hospital de Caridade, de Ijuí, é referência oncológica no RS

O tratamento de Berenice segue a linha dos avanços da oncologia, que passa a oferecer procedimentos menos agressivos e resultados eficazes. Por meio de estudos aprofundados, permite que se conheça o “nome e o sobrenome” de cada tumor e, com isso, que se individualize o tratamento.

Diante da expansão das possibilidades que vieram com a ciência e por meio da importação de equipamentos e novas técnicas, especialistas afirmam ser possível comparar o tratamento oncológico no Brasil com os grandes centros de referência na área. No entanto, os avanços dificilmente chegam com a mesma velocidade ao sistema público de saúde.

– No sistema privado, a medicina brasileira é igual à de qualquer outro lugar. No sistema público, no entanto, é evidente o empenho em alguns setores e uma grande carência em outros. Além de ser sub-remunerado, é tardio na implementação dos avanços – analisa Stephen Stefani, pesquisador e oncologista do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus.

A realidade pode ser compreendida a partir do exemplo do Hospital de Caridade de Ijuí, que, fora do circuito de grandes centros, coloca-se entre as referências em pesquisa oncológica no Estado. Para o oncologista Fábio Franke, as 74 linhas de pesquisa em andamento dão à instituição a possibilidade de desviar da burocracia e da resistência apresentadas por planos de saúde e rede pública. Ainda assim, tratamentos de ponta acabam limitados a menos de 10% dos pacientes.

– Trabalhamos para disseminar no Brasil conhecimento de primeiro mundo, mas, infelizmente, não visualizamos um futuro melhor a curto prazo – lamenta Franke.


Fonte: Jornal Zero Hora/RS - 14 de junho 2013.
Bruna Scirea e Taís Seibt

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